Kilombo Mocambeiro: Memória Ancestral é um projeto realizado como Trabalho de Conclusão de Curso, necessário para a obtenção do título de Bacharel em Design Gráfico na Escola de Design e Artes Visuais da Universidade do Estado de Minas Gerais. O projeto trata de temas valiosos, como:  pertencimento; manutenção das manifestações populares, religiosas e culturais; e principalmente, sobre a identidade da Comunidade de Mocambeiro e de seus moradores.
Sobre a Comunidade
Mocambeiro é uma comunidade remanescente de quilombolas, situada à 54km da capital Belo Horizonte (MG - Brasil) e que desde 1948 é um distrito da cidade de Matozinhos. O território de Mocambeiro faz parte da Área de Proteção Ambiental de Lagoa Santa e também abrange o Parque Estadual Cerca Grande, um importante sítio arqueológico e o único de Minas Gerais tombado a nível nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), desde 1962.
A Fazenda da Jagoara também é uma peça chave para o entendimento de como se deu a formação de Mocambeiro. Fundada em 1724, a fazenda foi um extenso empório rural às margens do Rio das Velhas e um forte mercador de pessoas escravizadas. Estima-se que lá foram escravizadas aproximadamente mil pessoas, de pelo menos seis nações africanas diferentes. A partir dos registros históricos, sustenta-se a hipótese de que essas pessoas, alforriadas ou fugidas, formaram os primeiros agrupamentos na região, os primeiros quilombos.
Ancestralidade
A identidade das comunidades negras tradicionais brasileiras, especialmente em Minas Gerais, se entrelaçam no elo com a mãe África e com a resistência aos horrores da escravidão. Assim acontece em Mocambeiro, as raízes e memórias da população que ainda hoje compõe a comunidade estão intimamente ligadas à esse passado e a luta pela manutenção de seus costumes.
O projeto Kilombo Mocambeiro registrou algumas manifestações que sobrevivem há séculos na comunidade. Foi necessário, por uma limitação no cronograma e adequação ao calendário de festas em Mocambeiro, fazer um recorte dessas tradições. Então, estão presentes no filme: o Reinado, o Candombe e a Folia de Reis.  A comunidade ainda possui outras tradições, como a Folia do Divino, Folia de São Sebastião e Encomendação de Almas, todas elas ligadas ao sincretismo religioso e a identidade afro-brasileira.
Problema
As origens da Comunidade de Mocambeiro estão fragmentadas em pouquíssimos documentos, além das histórias e memórias dos mais velhos. Sempre houve a preocupação com a manutenção das tradições e como despertar o senso de pertencimento dos mais novos, para que se reconheçam também como guardiões desses saberes.
Objetivos
Este projeto surgiu com a ideia de ser uma contribuição do design e do audiovisual como ferramentas para promover a valorização, fortalecimento e perpetuação da identidade quilombola e memória ancestral nos moradores de Mocambeiro.
Com isso em mente, ao planejar esse projeto, foram traçados alguns objetivos:
- Desenvolver um produto de design e audiovisual que documente a memória ancestral de Mocambeiro e instigue a identificação dos moradores para com a comunidade, aflorando assim o senso de pertencimento;
- Experimentar soluções audiovisuais que gerem identificação aos moradores de Mocambeiro;
- Produzir uma narrativa coerente para o formato de documentário;
- Produzir materiais complementares que possam ser utilizados em canais de comunicação;
- Fomentar o diálogo entre os moradores sobre a identidade quilombola de Mocambeiro;
Metodologia
Pedro Costa à direita, tocando a viola na Guarda de Congo de Mocambeiro.  Foto de Cláudio Santos, 2023.
É importante destacar que no processo de produção do documentário houve a necessidade de dividir o meu tempo para que pudesse realizar as minhas obrigações religiosas e produzir material para o projeto. As tradições foram passadas do meu avô para o meu pai, e do meu pai para mim, é algo que não abro mão de participar.
O desenvolvimento deste projeto exigiu um processo de convergência e divergência de ideias a todo momento. Foi feito um preparo para capturar as imagens concomitantemente a participação nos rituais.
Decidi que a estrutura do filme contaria com entrevistas, registros dos rituais e cenas cotidianas dos moradores. Seguindo o calendário de festas em Mocambeiro, faria o registro dos rituais e por último, as entrevistas com pessoas chave na comunidade. A partir disso, iniciou-se o processo de tomada de decisões sobre a história a ser contada, organizando as ideias em um roteiro simples:
introdução: apresentar a personagem principal “Mocambeiro”
desenvolvimento: apresentar as tradições e os entrevistados
problema: a sobrevivência das tradições e identidade da comunidade
argumento 1: uma pessoa que fazia parte das tradições, porém saiu
argumento 2: uma pessoa que ainda faz parte e valoriza as tradições
conclusão: o significado e o valor de pertencer à Comunidade de Mocambeiro
Identidade Visual
Desde o cartaz até os elementos do logotipo do filme, busquei destacar a personagem principal: Mocambeiro. Na imagem do cartaz podemos ver o maciço do Monumento Estadual Vargem da Pedra, que se encaixou perfeitamente no conceito do filme, pois está no território antes de tudo e todos, das pinturas rupestres à subsistência dos nossos ancestrais, está presente na memória dos moradores.
Os elementos foram pensados para que representassem um artefato de cada tradição: um tambú (tambor) do Candombe; uma coroa do Reinado; e a figa da Folia de Reis.
As fontes e as cores foram escolhidas com o intuito de incorporar o artesanato das bandeiras, as cores da festa e a natureza que envolve a comunidade como elementos do universo do filme.
O designer criador da fonte "Broadsheet", Brian Willson, é especialista em caligrafia histórica e letras cartográficas. A Broadsheet em si é baseada em impressos do período colonial norte-americano, utilizá-la neste projeto é também um meio de dar uma nova função a esta classe de tipos, servindo agora ao propósito contrário ao do colonizador.
Resultados
Ao final do projeto, todos os objetivos propostos foram cumpridos. Foram gerados um documentário de 26 minutos e 4 mini documentários de 2 minutos cada, como material complementar. Além disso, foi feita a exibição do filme em Mocambeiro, em um evento que contou com diversas atrações culturais com artistas da região, comidas típicas e com a presença de mais de 100 pessoas. O documentário está sendo utilizado para apresentar a comunidade à população, tanto a local quanto a de fora. O filme ainda será apresentado em festivais e pretendo continuar fomentando as discussões levantadas com esse projeto, desdobrando em outros projetos em prol da comunidade de Mocambeiro.
Para ler o dossiê completo desse projeto, com todas as referências e todo o processo de criação, e ainda assistir a todos os mini documentários, clique no botão abaixo:
ou

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